sábado, 24 de setembro de 2016

Mais uma acha intelectualóide para o inferno da eutanásia

 

cabine-suicida-webParece que vem aí mais um livro que aborda a eutanásia, desta feita de uma tal Lucília Nunes que dizem ser doutorada em filosofia (tem um alvará de inteligência). O título do livro: “E Quando Eu Não Puder Decidir?”.

Ao longo de milénios, pelo menos desde os gregos antigos, que uma pergunta deste cariz não fazia sentido (apesar da “tolerância” grega em relação ao infanticídio) — porque a noção do “eu” não fazia sentido sem a pólis, por um lado, e sem a família natural, por outro lado.

Não li nem vou ler o livro, porque o título do dito é uma síntese do seu conteúdo: caminhamos para uma sociedade com pouca liberdade política (ao contrário do que acontecia na pólis ateniense) e sem família natural (em que o indivíduo se encontra isolado face ao Estado).

Este tipo de sociedade é, para a Lucília Nunes como para a maioria dos detentores de alvarás de inteligência, inevitável, é uma espécie de fatalidade do “processo histórico” — e daí, talvez, a preocupação da Lucília Nunes com a morte como um “processo”, como se pudéssemos prever que um jovem de 20 anos morra em um acidente de automóvel, por exemplo, e que ele conceba a previsão da sua própria morte como um “processo” imanente.

«Ao longo dos tempos, fomos lidando com a morte, umas vezes de formas mais próximas, actualmente de forma mais distanciada, às vezes como se não existisse. Para isso também tem contribuído o “morrer no hospital”, criando distância em relação ao quotidiano, afastando doentes e moribundos do contacto com os seus, “medicalizando” a morte. Prestamos pouca atenção ao facto de não podermos vencer a morte mas podermos lidar com o medo que temos dela

Este assunto da interpretação imanente da morte (uma variante moderna da imanentização individual do éschatos) foi exaustivamente abordada por Gadamer e interpretada por Sofia Reimão em um livro que eu analisei sumariamente em vários verbetes.

Uma coisa é certa: na sociedade da Lucília Nunes, a eutanásia a pedido do cidadão ( e independentemente de estar fisicamente doente ou não), vai passar a ser um “direito humano”. Mas tal como pressentiu Gadamer, a sociedade da Lucília Nunes não resume a cultura da humanidade inteira, e parece invencível como os dinossauros pareciam invencíveis.

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