quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Quando a mulher adopta o apelido do marido

 

O jornal Púbico publica um artigo com o título “Identidade, submissão ou amor? O que significa adoptar o apelido do marido” :

“Nada obriga uma mulher a adoptar o apelido do marido no casamento. As que o usam são mais carinhosas e menos inteligentes?”

Naturalmente que a cultura antropológica actual sofre a influência nefasta das elites políticas e académicas, que enviesam o genuíno significado do simbolismo subjacente à adopção, por parte da mulher, do nome de família — porque é disto que se trata: adopção de um nome de família.

Antes de mais, temos que saber o que é a família antropológica. Os antropólogos do princípio do século XX — por exemplo, o estruturalista francês Claude Lévi-Strauss — chegaram à conclusão de que existe um tipo de família nuclear que é basicamente comum a praticamente todas as culturas.

A família nuclear antropológica é constituída por uma mulher e “três homens”: o marido da mulher, o irmão da mulher, e o filho da mulher. E a mulher é o centro da família nuclear, como podemos ver na imagem abaixo.

FAMILIA NUCLEAR

A noção de família nuclear antropológica não é a mesma da noção de “família” de Engels e do marxismo: para Engels, o matriarcado é um conceito radical, em que o homem (o marido) é desvalorizado em termos de função na família. Na família nuclear antropológica existem três pessoas do sexo masculino que são essenciais à família, pese embora seja a mulher o esteio da família.

Ou seja, na família nuclear, a mulher tem um poder real fáctico, uma vez que é ela que é a base da família. Por exemplo, a cultura judaica é matrilinear, o que revela que a mulher é o centro da família.

Ora, este poder real da mulher no seio da família, se for exacerbado (como acontece hoje), pode afastar o homem (o pai do filho); esta é uma das razões por que, cada vez mais, existem mães solteiras. Uma forma de fazer equilibrar a relação de poder na família, entre o homem e a mulher, é a de fazer coincidir simbolicamente o apelido do marido com o apelido da família: por isso dizemos, por exemplo, “família Oliveira”, “família Soares”, etc..

Não se trata propriamente de submissão da mulher ao marido, quando ela adopta o apelido dele: trata-se de uma concessão da mulher que tende a “prender” o homem (o marido) à família através de um simbolismo com incidência na cultura antropológica: através do símbolo do nome de família que coincide com o nome do marido, a mulher cede simbolicamente ao homem algum do poder real que detém na família, em troca de um compromisso de estabilidade na ligação do homem à família.

Não nos podemos esquecer do seguinte: durante toda a sua vida sexual, o homem produz biliões de espermatozóides, ao passo que a mulher produz cerca de 400 óvulos. É do interesse da mulher, concebida como a centralidade da família, que os “três homens” da família nuclear se mantenham próximos dela; e é essencial, para a mulher, que o marido não se sinta ostracizado no seio da família, ou que sinta que o seu poder real no seio da família fique diminuído.

Por isso é que é inteligente, por parte da mulher, que ela crie uma identidade da família através da inclusão simbólica do apelido do marido como nome de família. Não se trata, aqui, e ao contrário do que diz o politicamente correcto, de a mulher abdicar da sua identidade pessoal: trata-se, em vez disso, do papel da mulher em fomentar (no seu próprio interesse) uma identidade da família enquanto tal, conseguindo compromissos por parte do marido que tendam a uma unidade familiar.

No seio da família, a mulher concede (faz concessões tendo em vista compromissos por parte do marido), mas não se submete porque ela é a base fundamental da família. Quem não percebe isto é analfabeto funcional.

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