sexta-feira, 4 de maio de 2018

“Melting pot” não é a mesma coisa que “multiculturalismo”

 

Temos aqui um texto que começa por uma falsidade, ou um princípio errado:

« Durante muito tempo os EUA foram conhecidos como um Melting Pot, querendo com isso dizer-se que havia lugar para todos viessem donde viessem, que todos eram bem recebidos e que a pouco e pouco as diferenças culturais se iriam esbatendo a favor da “nova realidade cultural” ».

A ideia — autêntico delírio interpretativo que desconstrói a História — segundo a qual “existe um histórico de acolhimento de todos os imigrantes nos Estados Unidos”, é falsa.

Embora todas as crianças que viajassem sozinhas, vindas da Europa, fossem acolhidas em Nova Iorque e posteriormente institucionalizadas, já o mesmo não se passava com todos os adultos que viajassem sem família: uma grande percentagem de adultos viu a sua entrada barrada pelos Estados Unidos durante o século XIX e a primeira metade do século XX. Muita gente teve que voltar para trás.

Portanto, é falsa ideia de que “havia lugar para todos viessem donde viessem”; mas faz parte da actual narrativa política que está na moda. E esta narrativa politicamente correcta não faz a distinção entre o conceito clássico de “migração”, por um lado, e a “migração massiva” actual, por outro lado. Durante os séculos 19 e 20, os imigrantes chegavam aos Estados Unidos a “conta-gotas”, por assim dizer — até porque não havia grande imigração vinda do México, entre outras razões porque a guerra com o este país (século XIX) ainda estava fresca na memória e na cultura dos americanos no início do século XX.

Portanto, durante o século XIX e até à primeira metade do século XX, a imigração vinda do México era mínima, e a maior parte dos imigrantes entrava por via marítima em Nova Iorque, em pequenas quantidades de cada vez, vinda (principalmente) da Europa. imigrantes-us-web


Também a definição de 'multiculturalismo' (naquele texto) é abstrusa: “teoria que advoga a necessidade de assegurar representação no espaço público – universidades, meios de comunicação, política – aos diversos grupos culturais”. Em termos práticos, não é isto que o multiculturalismo faz (a 'representação').

O Multiculturalismo é a preservação de diferentes culturas antropológicas, ou de diferentes identidades culturais, em uma sociedade unificada por intermédio do Estado.

Esta é a correcta definição de 'multiculturalismo'.

Não se pode, por isso, falar de uma "nação multiculturalista”, mas antes de um “Estado multiculturalista”. O conceito de "nação multiculturalista" é contraditório em termos (um oxímoro).


Para que os Estados Unidos pudessem continuar a ser uma nação, houve sempre uma cultura dominante que moldava as culturas imigrantes (desde logo a questão da língua inglesa), independentemente da imigração (e por isso é que os Estados Unidos são um 'melting pot', e não um multiculturalismo). Ora, é essa cultura dominante dos Estados Unidos que está hoje a ser colocada em causa pelo marxismo cultural — como, aliás, se pode constatar com a leitura daquele texto.


A autora daquele texto confunde (propositadamente) 'multiculturalismo', por um lado, e 'melting pot', por outro lado. Em verdade, tradicionalmente, o melting pot significa 'assimilação cultural por parte da cultura dominante':

“Historically, it is often used to describe the assimilation of immigrants to the United States”.

Ora, no multiculturalismo, nenhuma das culturas antropológicas em presença sacrifica a sua existência em função de uma cultura dominante, e por isso não existe uma assimilação cultural em relação a uma cultura dominante. Portanto, é um erro dizer-se que “multiculturalismo é a mesma coisa que melting pot”, como se tenta dizer aquele texto.

Um dos erros da autora daquele texto consiste em conceber a possibilidade (atenção!: metáfora adiante!) de uma pequena aldeia onde se falem várias línguas muito diferentes entre si; ou seja, uma impossibilidade objectiva.
Karl Popper dá o exemplo da proficuidade cultural do império austro-húngaro, mas a verdade é que a cultura dominante daquele império falava alemão e tinha uma ética cristã — e ainda hoje, na Hungria, o alemão é uma segunda língua popular.

Por outro lado, o conceito ético de 'universalismo moderado' (expresso naquele texto) é um absurdo.

Para além da impossibilidade de se falarem diferentes línguas em uma pequena aldeia (metáfora, outra vez!), também é impossível a coexistência de diferentes códigos morais em uma pequena povoação.

Os valores da ética (em uma determinada sociedade) têm necessariamente que ser: 1/ universais, 2/ racionalmente fundamentados, 3/ intemporais, e 4/ facilmente reconhecidos (pelo povo) nas suas características principais.

Qualquer truncamento deste conjunto de quatro princípios não traduz qualquer tipo de universalidade dos valores da ética. Não existe tal coisa como “universalismo moderado”: ou existe universalismo, ou não — assim como não existe, por exemplo, “Islamismo moderado”: existe Islamismo, e ponto final.

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